Como fazer o planejamento financeiro da sua empresa para enfrentar a alta dos preços

Insumos e mercadorias que subiram além da inflação são os custos que mais pressionam os negócios; controle das finanças é fundamental

Em 2021, a inflação oficial fechou em 10,06%, maior valor dos últimos seis anos, representando a média da variação de preços de produtos e serviços no País. No entanto, no dia a dia dos empreendedores, os indicadores individuais vão bem além do índice médio e evidenciam um desafio a mais na hora de fazer a gestão financeira da empresa e de se planejar ao longo do ano.

Camila Prendada é artesã e produz bolsas e acessórios. Segundo ela, os materiais que mais aumentaram de preço foram as ferragens que usa nas bolsa (Foto: Reinaldo Canato / Ricardo Yoithi Matsukawa - ME / Sebrae-SP)
Camila Prendada é artesã e produz bolsas e acessórios. Segundo ela, os materiais que mais aumentaram de preço foram as ferragens que usa nas bolsa (Foto: Reinaldo Canato / Ricardo Yoithi Matsukawa – ME / Sebrae-SP)

A artesã Camila Zumba Vilela, por exemplo, começou a sentir o impacto da inflação há pouco mais de um ano, quando a escalada do dólar se refletiu no aumento dos preços das matérias-primas entre 30% e 50%. Mas houve casos de altas ainda maiores, como a caixa de rebite com mil peças. Antes da pandemia, ela pagava R$ 80. Agora, paga o dobro: R$ 160.

Outro caso envolve as ferramentas, como o furador de couro, que passou de R$ 49 para R$ 85. Para minimizar o aumento dos custos, a empreendedora, proprietária da marca Camila Prendada, faz muita pesquisa de preços, procura comprar em quantidades maiores e sempre está em busca de novos fornecedores, além de procurar pagar as compras em dinheiro quando possível, já que em alguns lugares os descontos podem chegar a 15%.

Outra estratégia de Camila é se planejar para diminuir a quantidade de vezes que precisa sair de casa para comprar material, economizando um pouco na gasolina. A artesã também reaproveita retalhos de tecidos para produzir peças menores, como porta-moedas e porta-óculos. “Utilizo as peças para dar de brinde e fidelizar clientes, e também aproveito para vender um produto mais acessível”, conta.

Assim como no caso de Camila, os insumos e mercadorias foram apontados por 35% dos Microempreendedores Individuais (MEIs) e 39% dos donos de micro e pequenas empresas como os custos que mais têm pressionado seus negócios, de acordo com a 12ª edição da pesquisa do Sebrae sobre o impacto da pandemia nos pequenos negócios. Combustível, aluguel e energia elétrica também aparecem na lista.

Controle

A consultora do Sebrae-SP Lucia Amélia Gomes afirma que a alta dos custos é uma reclamação diária dos empreendedores. “A maioria dos relatos cita alta nos custos de matéria-prima e insumos, de energia elétrica, de contratação e reposição de funcionários. Porém, alguns empreendedores não têm controles financeiros atualizados e efetivos que permitem ter clareza do impacto dos aumentos na lucratividade da empresa”, destaca.

Por isso, antes de começar a cortar os custos, a consultora recomenda fazer um mapeamento para saber exatamente onde a empresa está gastando, ou seja, para onde está indo o dinheiro do negócio. Uma das indicações é fazer o controle financeiro por meio do DRE (Demonstrativo de Resultado do Exercício) para acompanhar em detalhes a situação financeira da empresa. “Com um controle preciso e confiável, é possível avaliar o impacto de cada custo no faturamento e sua relevância para o negócio e para os clientes. Mas cuidado para não cortar gastos que afetem a qualidade do produto ou serviço e a entrega de valor ao cliente”, alerta.

Outro ponto de atenção é com o preço cobrado pelos produtos e serviços. Em muitos casos, fica difícil não repassar parte dos aumentos para o consumidor. Por isso, é importante que o empreendedor tenha clareza dos custos envolvidos e calcule corretamente o preço de venda. “Comunique os clientes com antecedência de que haverá reajuste, explique o real motivo, acompanhe e estude os preços praticados no mercado, ofereça vantagens para fidelizar seus clientes e reforce sempre a entrega de valor e qualidade dos seus produtos e serviços”, orienta Lucia.

Alimentos

A empreendedora Natasha Faria Gargano precisou diminuir a margem de lucro e fazer muita pesquisa de preços para fechar as contas de suas empresas, Comidinhas da Natasha e Nath Fit. Ela procura fazer muitas consultas com fornecedores e a organização constante é um fator para ter o melhor produto com bons preços. “Procuramos comprar direto dos produtores, no caso dos hortifrutis. Já com as carnes, busco qualidade e procuro comprar em quantidade para ter um prazo de pagamento e um valor que consiga trabalhar”, conta.

Peixes, como salmão e linguado, entram no cardápio se o cliente pede especificamente nas marmitas, produzidas de acordo com a dieta. Para se ter uma ideia da alta dos preços, Natasha conta que pagava R$ 19 no quilo do corte bovino patinho. Atualmente, paga R$ 44. O quilo do filé de tilápia saltou de R$ 17 para R$ 38. E o do filé de frango foi de R$ 12 para R$ 19,90. Além de todos os produtos, ainda tem o gás de cozinha, que passou de R$ 63 para R$ 105.

Mesmo com todas as dificuldades, Natasha tem as melhores expectativas para 2022. “Acredito em mim, na minha empresa e na comida que produzo. Quero expandir, crescer e colocar minha comida em outros pontos de venda. Espero que a economia seja reestruturada para podermos oferecer sempre o melhor”, conta.

A consultora do Sebrae-SP Lucia Gomes afirma que o monitoramento dos custos e adequação dos preços devem ser práticas constantes no negócio. “Todo empreendedor está em busca de melhorar a lucratividade da empresa, e práticas ligadas a aumento de faturamento e redução de custos podem levar o negócio a patamares diferentes. É preciso muita atenção, estratégia e monitoramento constante”, finaliza.

Como enxugar os custos

– Faça gestão financeira da empresa com riqueza de detalhes: separe custos diretos, fixos e variáveis e tome decisões mais assertivas com base em dados e informações.

– Envolva os colaboradores na geração de ideias e sugestões para redução de custos; isso pode contribuir para enxergar pontos de vista até então ignorados pelo gestor.

– Reavalie todos os custos e despesas fixas e variáveis; veja onde há desperdício.

– Verifique o consumo de energia elétrica das máquinas e dos equipamentos atuais e a possibilidade de troca ou manutenção, além de investimento em outras fontes de energia.

– Busque novos fornecedores e parceiros para o negócio; mantenha-se atualizado e informado sobre o mercado e preparado para negociar sempre.

– Reveja e renegocie gastos com tarifas bancárias, logística, telefonia, internet, seguros, benefícios, consumo de água, material de escritório e de limpeza.

– Planeje o dia a dia da empresa para evitar desperdício, retrabalho, movimentação e processamentos excessivos, buscando a melhoria contínua dos processos.

– Atenção para o estoque, como compras constantes e excessivas, estoque exagerado de insumos ou produto acabado e excesso de produção comparado à capacidade de vendas; isso tudo exige maior espaço de armazenagem e esforço de gestão de estoque, além de significar dinheiro parado.

– Faça a seleção de funcionários de forma clara, técnica e com base nos objetivos estratégicos da empresa; reveja também as responsabilidades de cada um e busque ser mais eficiente com o quadro atual.

– Defina seu pró-labore e mantenha regularidade nas retiradas; lembre-se de que o caixa da empresa não é extensão do bolso do empreendedor.

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